O sorro, também conhecido como raposa dos pampas, é um mamífero de hábitos solitários. Animal muito conhecido por se fingir de morto quando se vê ameaçado. A capacidade de dissimular, de agir às ocultas, de fazer as coisas escondidas não é exclusiva dos sorros. Os humanos são hábeis em agir sorrateiramente, ainda mais quando o assunto é lixo. Um dos saldos do Carnaval é o aumento da produção de lixo, principalmente plástico, decorrente do uso dos descartáveis uma única vez. As avenidas e os espaços públicos, ao término dos eventos, mostram o lado B da Folia. É um mar de copos e garrafas jogados pelo chão sem pudor ou cerimônia. Todo o lixo vai parar na natureza. Muitos, nos rios e mares, poluindo a água que é essencial à vida. A água não é fabricada pela Corsan ou outro órgão qualquer. A Corsan capta, trata e distribui. A escassez e a poluição dificultam ou inviabilizam este trabalho. Significa dizer que é preciso cuidar das nossas águas sob pena de comprometer a sobrevivência humana na Terra. É característica do Brasil, toda a atividade coletiva deixa um rastro inacreditável de sujeira. Difícil imaginar que por ali passaram pessoas educadas, racionais.
De fato, educação e escolaridade nem sempre caminham juntas. Deveriam. Jogar bituca de cigarro em jardins, praças ou pela janela do carro é atitude corriqueira para a maioria dos fumantes, que vê a sua atitude como única. A educação não é suficiente para mensurar o impacto que representa outros milhões agindo da mesma forma. Os espaços coletivos são de todos, porém os cuidados são de alguns e, não raramente, repassados ao poder público, sob a justificativa do pagamento de impostos. Me decepciono com a comprovação de que educação e escolaridade trilham caminhos que não se encontram.
Educação ambiental não se aprende exclusivamente na escola ou em uma disciplina. A escola aprimora. Hábitos e valores devem ser ensinados desde o momento em que as crianças começam a interagir com o meio exterior. Desaprender hábitos errados e valores distorcidos é mais difícil do que aprender o certo. É por isso que separação de lixo é tão difícil. Aquilo que não se pratica cotidianamente não é internalizado. É difícil ensinar o sorro que há outras estratégias para fugir da ameaça. A responsabilidade com o descarte e com o destino corretos deve ser tão natural quanto lavar as mãos após usar o banheiro ou tomar banho diariamente. O descarte clandestino e irregular em via pública ou em terrenos baldios é realizado sorrateiramente sem cerimônia em nossa cidade. É difícil ensinar quem não aprendeu que resíduo reciclável não é lixo, e que a via pública não é um coletor universal, se aprenderam que após a porta da casa tudo é fora e fora não é de ninguém, muito menos meu.
Enquanto for assim, teremos um título de "Cidade Cultura" que é de mentira e vamos continuar aplaudindo japoneses e europeus que vão aos estádios e juntam o lixo que geram, que têm cidades limpas e altas taxas de resíduos reciclados.